"Estamos em um momento muito peculiar da história da humanidade. Por um lado, vivenciamos um momento de extensa conectividade, onde nos comunicamos com pessoas e notícias de toda parte do mundo em milésimos de segundos. Por outro, sentimos toda a tensão das incertezas econômicas, políticas e de segurança digital, potencializadas por um mundo pós-covid-19.
Vivemos em um momento de muita desconfiança e polarização, onde queremos conectarmo-nos apenas com aqueles “iguais” a nós. Amigos e familiares têm dificuldade de encontrar pontos ideológicos comuns. Instituições nacionais perderam força e a população não acredita mais em suas propostas.
Isso vai de encontro ao que o mundo precisa neste momento!
Cada dia mais, mudanças sociais, de consumo, políticas e econômicas impactam não só regionalmente, mas globalmente. Uma pequena greve nos serviços de transporte de insumos, no estado do Paraná, como a soja, pode impactar o abastecimento de diferentes países, bem como a cadeia de consumo daqueles que deixaram de arrecadar com vendas, bem como o recebimento em todos os serviços atrelados a esta exportação. Uma decisão política na China, estremece toda a cadeia de investimentos, rotas de mercado e gera uma infinidade de consequências desde às grandes empresas até à vida de um indivíduo que perde o emprego (por falta de demanda) do outro lado do mundo.
Não conseguimos, e não podemos mais, tomar decisões isoladas. Aqui entra o conceito de cidadão global, uma nova maneira de enxergar o mundo como um grande processo de “ganha-ganha” e não como um campo de batalha silenciosa, que está aos poucos levando grandes nações a crises políticas, sociais e culturais.
Precisamos trabalhar em nível individual e coletivo para que haja engajamento e envolvimento com aqueles que discordam de nós e abrir um espaço seguro de discussão para que todos possam expressar suas ansiedades, preocupações e ideias para o futuro. “Somente quando vemos a humanidade naqueles mais diferentes de nós é que podemos começar a fazer a ponte entre diversidades e a criar sociedades que representam e trabalham para todos nós.” (Bhushan Sethi, Joint Global Leader, People and Organisation, PwC US; Lady Mariéme Jamme, Founder and Chief Executive Officer, iamtheCODE).
No último encontro de DAVOS (2021), ser um cidadão global foi levantado, inclusive, como um soft-skill essencial a ser desenvolvido para um futuro socio e economicamente sustentável. Empresas e pessoas precisam ser educadas a tomar decisões com uma visão consciente da diversidade transcultural e geopolítica, compreensão da relevância local nos eventos globais e entendimento dos impactos não econômicos (humanos, ambientais e sociais).
Mas como desenvolver esta soft-skill e disseminar a tolerância e esse sentimento de coletividade?
Quem lê esse conceito de cidadão global, pode imaginar que estou falando de algo muito utópico, mas a verdade é que vejo exatamente isso dentro da microssociedade onde trabalho. Nossa comunidade de professores e alunos do DeROSE Method. Muitas são as divergências políticas e ideologicas, mas concordamos em respeitar, ouvir, exercitar a empatia e estarmos receptivos a aprender. Uma coisa é certa, não nos limitados a paradigmas e dogmas, nossa proposta é evoluir, e isso envolve mudar, inclusive de opinião ao longo da viva. Tomamos decisões alinhadas ao crescimento de uma rede, sem estarmos atrelados a contratos ou diretrizes cooperativas, mas com o senso de missão ao levar a um número cada vez maior de pessoas um estilo de vida saudável e prazeroso, comportamentos que cultivam a gentileza e o crescimento coletivo.
Quanto mais leio e estudo, mais percebo que cada um destes aspectos, que compõem um cidadão global, não se tratam de comportamentos e habilidades fantasiosos, mas extremamente atuais. Empresas que possuam funcionários sem esta visão, não terão os mecanismos necessários para manter-se num mercado global. Nações e grupos sociais que não ampliem seus horizontes para o mundo, estarão fadadas ao isolamento e ao esquecimento.
Eduque-se, ensine e entenda o seu impacto nos grupos sociais dos quais faz parte, desde seu ambiente familiar e coorporativo, até ao impacto, por mais irrisório que pareça, que suas escolhas têm no mundo. Lembre-se que as suas escolhas serão somadas ao todo e é isso que muda o curso climático, econômico, político e social do planeta em que você vive.
Parece trabalhoso, ou até mesmo que você está “enxugando gelo”, mas comece com pequenos passos, quem sabe exercitando a resiliência, a empatia, os bons relacionamentos, a tolerância e a compaixão. Naturalmente, ao exercitar essas habilidades, você fará escolhas mais conscientes, não apenas para que a sua rotina se torne mais leve e descomplicada, mas para que a sua vida tenha um reflexo positivo nas pessoas do seu convívio e muito além dele. Torne-se um cidadão do mundo!
13/10/2021